Noémia de Sousa, Moçambique(1926-2002) LET MY PEOPLE GO Noite morna de Moçambique e sons longínquos de marimba chegam até mim — certos e constantes — vindos nem eu sei donde. Em minha casa de madeira e zinco, abro o rádio e deixo-me embalar… Mas as vozes da América remexem-me a alma e os nervos. E Robeson e Marian cantam para mim spirituals negros de Harlem. «Let my people go» — oh deixa passar o meu povo, deixa passar o meu povo —, dizem. E eu abro os olhos e já não posso dormir. Dentro de mim soam-me Anderson e Paul e não são doces vozes de embalo. «Let my people go». Nervosamente, sento-me à mesa e escrevo… (Dentro de mim, deixa passar o meu povo, «oh let my people go…») E já não sou mais que instrumento do meu sangue em turbilhão com Marian me ajudando com sua voz profunda — minha Irmã. Escrevo… Na minha mesa, vultos familiares se vêm debruçar. Minha Mãe de mãos rudes e...